Se isso, então aquilo – gênios, startups e otimismo
Há algumas semanas falei sobre o poder adormecido que a Internet tem de juntar tudo o que sabe e transformar em inteligência e ação automatizada. Dias depois começou a se espalhar pela web o espanto e admiração sobre uma nova ferramenta, de uma startup de São Francisco, o www.ifttt.com . O endereço esquisito é a abreviação de “If This, Then That”, ou, em bom português, “Se Isso, Então Aquilo”.
A ideia é simples e fantástica. Ou simplesmente fantástica. Você autoriza o acesso da ferramenta a praticamente todas as suas contas em outros serviços digitais (e-mail, Facebook, Twitter etc) e ele junta tudo em ações automatizadas.
Por exemplo, você pode instruir o serviço a pegar todas as fotos que você tira com o Instagram e, automaticamente, subir para seu álbum no Facebook ou no Picasa. Ou para que ele crie um compromisso no Google Agenda falando para você pegar o guarda-chuva sempre que a meteorologia anunciar chuva para o dia seguinte.
Sério. É isso mesmo. As combinações são infinitas e, o mais legal, você pode compartilhar com os demais as gambiarras que criar com o serviço. Dá para fazer um backup automático de seu Twitter ou Facebook. Ou fazer um download de todas as fotos em que você for marcado no Facebook para sua conta no Dropbox. É assustadoramente incrível.
É claro que esse tipo de novidade traz suas dúvidas. A primeira é nossa disposição em conceder acesso de nossos dados a serviços que, por mais que pareçam simpáticos e amigáveis, são de origem desconhecida. Ao plugarmos toda nossa vida online no Ifttt, estamos dando a eles acesso a ler e alterar todas as nossas fotos, mensagens, status em redes sociais e arquivos armazenados no Dropbox. Requer um mínimo de coragem ou desprendimento.
Ok, mas e o dinheiro?
Outra dúvida, também inevitável, é deixar de lado a visão geek e pensar como negócios. Não parece claro, a princípio, qual o modelo de negócios do Ifttt. Traduzindo: não é claro como os donos do serviço vão conseguir ganhar algum dindin com ele. Uma tática possível é a de nos tornar tão dependentes do serviço que teremos que desembolsar algum para continuar a usá-lo no futuro. Os Termos de Uso da ferramenta, aquele monte de texto que ninguém lê, deixa essa possibilidade aberta, de forma bastante direta: “O Ifttt se reserva o direito de cobrar no futuro taxas pelo uso ou acesso ao site e/ou serviço”. O Last.fm, pioneiro no ramo das rádios online, fez isso e perdeu boa parte de seus milhões de ouvintes para concorrentes que permaneceram gratuitos.
Outra opção é criar uma base de usuários grande o suficiente para atrair o olhar de grandes tubarões, como o Google. Muito do que se vê e usa do mundo Google foi comprado de pequenas startups como essa, que tinham belos produtos que sozinhos não fariam receita, mas que geram valor dentro do ecossistema da gigante colorida.
É bacana quando se consegue apoio para investir numa ideia sem a pressão pelo retorno imediato. A figura dos “anjos”, investidores pessoa-física que apóiam empresas iniciantes, ou das incubadoras são fundamentais para isso. Pois qualquer iniciativa, por menor que seja, tem custos fixos. O Ifttt terá um custo considerável de servidores e conexão à internet, e sua equipe precisa pagar o aluguel, comida e os jogos de Xbox e PS3. Felizmente esse modelo de negócios vem ganhando força no Brasil, com agências e empresas de médio porte incubando pequenos negócios – vejo isso com muita força no cenário Web – e com incubadoras profissionais tendo cada vez mais recursos para investir. A começar pelas acadêmicas e passando pelas ligadas as instituições governamentais ou sindicatos patronais.
Gênios com grandes ideias precisam de caretas com dinheiro no bolso para fazer seus sonhos decolarem. E ambos precisam de usuários que embarquem e propaguem suas novas maravilhas. Escolha seu papel nessa roda e mova esse traseiro gordo, tem um futuro todo esperando para ser desenhado. Se isso, então aquilo.
P.S. Se você se interessa por empreendedorismo, tecnologia, internet, redes sociais e o mundo digital, não perca o Social Media Week, evento mundial que, no Brasil, rolará no Rio de Janeiro e em São Paulo, de 19 a 23 de setembro. Terei a honra de participar de alguns painéis, entre feras de diversas escolas, origens, visões e profissões. Saiba mais aqui: http://socialmediaweek.org/