Distribuições comunitárias: Reflexões sobre o destino do Kubuntu
Há poucos dias o conjunto dos usuários do Kubuntu e das distribuições que se baseiam na sua estrutura receberam a desalentadora notícia, encaminhada pelo principal responsável por sua manutenção, que a Canonical iria interromper seus investimentos na distribuição, passando a tratá-la como uma distribuição comunitária (como o Xubuntu ou o Edubuntu) e não mais como um projeto da empresa.
Vale destacar que a Canonical (responsável pela popular distribuição Ubuntu, lançada em 2004) anunciou o Kubuntu em 2005 como uma alternativa que era parte do projeto Ubuntu em si, mas tinha um grande diferencial: ao invés de ser construída ao redor do desktop GNOME (caso do Ubuntu, ao menos até 2010), adotaria como base o desktop KDE.
A polarização comunitária entre usuários do KDE e do GNOME é caso antigo e, se hoje tem como base o histórico e as opções diferenciadas quanto a interface com o usuário e outros aspectos técnicos, nasceu como algo mais profundo: o GNOME foi criado em 1999 como uma alternativa ao licenciamento do KDE, ou mais precisamente do Qt, componente essencial ao desenvolvimento deste ambiente gráfico e que – na época – não era open source e assim era percebido como uma ameaça à integridade do desktop livre.
Mas muita coisa mudou na estratégia da Canonical entre o lançamento do Kubuntu, em 2005, e o anúncio do fim dos investimentos da empresa em seu desenvolvimento, nesta semana. O mesmo desenvolvedor que anunciou o fim dos recursos incluiu a observação de que a medida da empresa tem base racional, uma vez que em 7 anos a distribuição não conseguiu gerar retorno para o esforço da empresa em mantê-la e prestar suporte.
Ao mesmo tempo, me parece claro que o Kubuntu como produto oferecendo o KDE como alternativa ao GNOME originalmente adotado pelo carro-chefe da Canonical começou a perder seu lugar na estratégia da empresa assim que ela decidiu enveredar pelo caminho de um desktop diferenciado, cujo aspecto mais visível é o ambiente Unity, desenvolvido internamente.
Trocando em miúdos: se antes a polarização entre GNOME e KDE ajudava a explicar a existência de uma distribuição a mais (ainda que fosse para evitar desagregação da camada comunitária que existe entre os usuários da Canonical), agora este argumento ficou bem mais complexo, para dizer o mínimo.
Mas interpretar motivações é matéria ampla, e agora surge este outro post com uma análise adicional, de autoria do desenvolvedor bille, que é uma contraparte interessante de Jonathan Riddel, o desenvolvedor da Canonical autor do post original: enquanto Jonathan é o principal responsável pelo KDE na Canonical, bille tem esta mesma tarefa na concorrente SUSE.
O ponto de vista de bille vai um pouco além nas motivações. Na sua leitura, o Kubuntu também ficou sem espaço na estratégia da Canonical, mas por uma razão adicional: ele já teria cumprido a sua real tarefa, que era a de servir de engodo para os usuários e desenvolvedores que precisavam acreditar em uma imagem de distribuição de Linux voltada para a comunidade mesmo sem concordar com as escolhas do produto Ubuntu em si.
Não conheço os fundamentos e não posso avaliar esta opinião do desenvolvedor, mas ela o conduz a uma conclusão interessante e mais ampla, porque se aplica às distribuições tidas como comunitárias mantidas por empresas que têm outras distribuições como seus carros-chefe (caso do Kubuntu – ao menos até abril -, do Fedora e do openSUSE): seus usuários não devem ter ilusões sobre o que elas significam para as empresas que os patrocinam. E nisso estamos 100% de acordo.
9 fevereiro, 2012 as 17:22
depois da adoção do Unity pelo Ubuntu, que vi positivamente no objetivo da empresa de se aproximar do usuário menos técnico, migrei para o Debian e estou surpreso com a evolução do sistema. Hoje para aqueles que se dizem entusiastas do movimento open source, o Debian se traduz em um sistema não gerido por qualquer empresa, estável e altamente recomendável.