Kindle Fire: o novo tablet Android mais popular não roda Android – ou algo assim
O tablet Kindle Fire, lançado nos EUA em novembro pela Amazon, chegou ao mercado conquistando índices de popularidade surpreendentes – mas a sua inclusão na categoria “tablets Android” não é tão direta quanto a de produtos como o Galaxy Tab ou o Xoom.
Existem várias formas de medir a popularidade de plataformas, e a medição periódica mantida pela Flurry Analytics se aproxima das medições de audiência da televisão: não contabiliza aparelhos produzidos ou comprados, mas sim o seu uso, medido a partir do número de execuções de aplicativos pelo usuário.
Para isso os recursos da empresa estão em uso por mais de 120.000 aplicativos nas principais plataformas móveis, o que permitem a ela coletar mais de 20 bilhões de informações (agregadas e anônimas) sobre sessões de uso todos os meses, o que gera uma série de informações sobre perfis e tendências, incluindo a que é hoje nosso foco.
Em nota recentemente divulgada, a empresa – que estima coletar informações de sessões de uso em mais de 90% dos tablets Android em operação – permite analisar os efeitos da chegada do Kindle Fire sobre o mercado, uma informação interessante não apenas para os usuários, mas também para os desenvolvedores de apps e de conteúdo atentos aos seus canais de distribuição.
E basta uma breve olhada nos 2 gráficos acima para perceber o contraste entre a situação de novembro (à esquerda), mês de lançamento do Fire e no qual ele tinha apenas 3% das sessões de uso para fazer frente às 63% da grande família Galaxy Tab, e a de janeiro, em que o tablet da Amazon pulou para 36%, uma fatia do mesmo tamanho da ocupada pelo antigo participante majoritário, lançado em 2010 – e vale destacar que o empate é devido ao arredondamento do gráfico, pois nos números da pesquisa o recém-chegado já ultrapassou o veterano.
Chegou chegando
Não se trata de uma mera questão de vendas, e o fato de a Amazon não divulgar com clareza a quantidade de vendas do Kindle Fire isoladamente (ela publicou apenas o número agregado de todos os kindles, do mais singleo leitor de ebooks ao fire: 4 milhões em dezembro) não permite todas as análises que seriam desejáveis, mas certamente trata-se de uma grande arrancada e de uma comprovação de que o Fire chegou sacudindo o seu mercado.
A situação das demais fatias do mercado apresentadas pela Flurry também é interessante, inclusive por apresentar mais claramente a relação entre os carros-chefe da Asus, Acer e Motorola (a fatia do Motorola Xoom, que no período vendeu 200.000 unidades, equivale a pouco mais da metade de cada uma das outras duas), e em especial sobre os sintomas de renovação que apareceram no fim da fila: o Toshiba Thrive, que não aparecia em novembro, agora está com 3% e colando no Xoom, ao passo em que a categoria “Outros” pulou de 4% para 7%.
Voltando ao novo líder, a Flurry atribui o salto no uso do Kindle Fire às vendas de Natal, como seria de se esperar, mas também ao desempenho da Amazon App Store, fonte de apps para o aparelho.
Quanto às vendas de Natal, trata-se de um efeito similar ao da maré que sobe e eleva todos os barcos. No que diz respeito à quantidade total das sessões de aplicativos Android contabilizadas, o período da pesquisa viu seus números triplicarem, e o próprio Galaxy Tab sozinho alcançou mais do que o dobro do seu número no trimestre anterior, em números absolutos.
Um elemento a mais de impulso para o Fire diz respeito a algo que estimula os desenvolvedores de aplicativos, fundamentais para o sucesso de qualquer plataforma móvel moderna: a partir dos dados a que tem acesso de apps do Android Market e da Amazon App Store, neste trimestre a Flurry verificou que para cada 2 apps comprados pelos usuários do segundo colocado, os usuários do Kindle Fire compraram 5.
É e não é
Tudo indica que a forma como a Amazon oferece e entrega o Kindle Fire aos seus clientes (preço mais baixo, foco no conteúdo e não nas especificações de hardware, e outros detalhes contrastantes) fez com que ela tivesse melhores condições de aproveitar a maré cheia do final do ano do que os seus concorrentes que já estavam remando há mais tempo, o que potencialmente terá reflexos positivos não só na adoção do produto, mas especialmente na chegada de mais desenvolvedores à Amazon App Store, que também pode ser usada por quem adquiriu aparelhos rodando Android.
O que nos leva à questão mencionada no título: embora o sistema operacional que roda no Fire seja um descendente direto (e modificado) do código aberto do Android 2.3, a Amazon não o chama publicamente de Android nos materiais de divulgação, não tem compromisso formal de manter compatibilidade com versões futuras do Android, e nem tem a necessária homologação para integrar-se ao ecossistema que o Google mantém para o sistema ao redor do Android Market – nem a deseja, claramente.
A compatibilidade que permite rodar apps do Android no Fire, bem como as naturais similaridades hoje existentes entre o sistema original e o recente fork feito pela Amazon (que cada vez mais esconde as características do Android sob sua própria camada de interfaces), para mim é uma boa justificativa para que estatísticas atuais mantenham o Fire no grupo dos “tablets Android”, mas fico curioso para ver por quanto tempo os 2 sistemas vão ser vistos como idênticos.
Mas o que me deixa mais curioso é o que o Google vai fazer nos próximos meses com respeito às suas próprias estatísticas que ocasionalmente divulga a desenvolvedores e ao mercado em geral: vai contar os dados de uso do Kindle Fire como se fossem de aparelhos Android, ou vai tratá-los como uma nova categoria entre os concorrentes? Logo descobriremos e comentaremos.
Por enquanto, resta continuar a acompanhar o crescimento do Fire e – caso o produto e a sua App Store associada lhe interessem – torcer pela breve chegada ao varejo brasileiro.