Grim Fandango Remastered foi recriado pela Double Fine, sob a
direção de Tim Schaffer, o mesmo responsável pelo projeto original na
Lucas Arts. Com remasterização focada principalmente na engine e em
aspectos estéticos, a essência do jogo permanece a mesma, um clássico da
aventura point-and-click com história cômica e clima noir.
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História do Mundo dos Mortos
Parte da excelência de Grim Fandango reside na sua história excêntrica e em
seus personagens sorumbáticos. Manny Calavera precisa trabalhar no Departamento
de Mortes por um tempo que seja suficiente para pagar por seus pecados em vida.Dependendo de como viveram, os mortos têm direito a “pacotes de viagem” para o além, que são premium ou menos luxuosos. A função de Manny é vender o máximo possível dos pacotes mais caros, mas ele tem tido dificuldade com os clientes enviados pela empresa, nenhum parece se qualificar para os bons postos. Desrespeitado pelos colegas e com risco de perder o emprego, Manny tenta roubar um cliente de outro funcionário, um cara convencido e enjoado que cresceu na empresa rápido demais e roubou seu lugar. Nesse processo ele descobre um esquema corrupto e uma liga revolucionária secreta.

A personalidade de cada um interfere no clima geral do jogo, que começa com
Manny sendo um total perdedor, com todos sendo, na melhor das hipóteses,
indiferentes a ele. Esse cenário se alterna com personagens mais leves e
atrapalhados, como o monstro Glottis que foi feito para dirigir – uma
habilidade fundamental no mundo dos mortos, em que a única passagem para o dos
vivos é por veículos motorizados.
Com uma ambientação à la Dia de Los Muertos mexicano misturado com um drama
tragicômico, a história se desenvolve durante quatro anos da vida pós-morte de
Manny, e segue as regras e lógica daquele universo particular, enquanto o
protagonista parte em uma jornada. Sua história pessoal vai sendo desvendada e
também vamos descobrindo o objetivo final de sua empreitada.

Aventura póstuma
O point-and-click conta com apenas um modo de jogo, e apenas uma aventura,
do começo ao fim, sem um fator replay forçado, apenas a vontade de reviver a
história. Com poucas instruções diretas e mais um direcionamento geral o
esforço de fato fica na exploração das cenas e em tentativa e erro.Com a jogabilidade focada em passar o mouse pela tela a procura de pistas, conversar com pessoas e resolver puzzles, é uma aventura também de paciência e concentração. Descobrir saídas para os problemas traz uma gratificação, assim como as falas engraçadas e únicas dos personagens, a maioria completamente absorvida demais em si mesma, gerando uma comicidade um pouco trágica.
Para os jogadores modernos é um título um pouco fora do comum, sem extremo merchandising ao redor, com dificuldade um pouco mais elevada e sem dicas nem modo easy. No entanto, é possível olhar para toda uma época e um gênero através da janela de Grim Fandango, que é considerado o apice da aventura point-and-click dos anos 90 e foi alterado minimamente, apenas o suficiente para se encaixar nos padrões visuais atuais e funcionar em máquinas de hoje.

Essa janela chega a ter um ponto um pouco engraçado, como bugs do jogo
original. Nada que – esperamos – uma atualização não resolva. Às vezes alguns
elementos somem da tela, especialmente ítens do inventário, ou um raro
travamento em um momento específico do jogo. Se for jogado de forma old
school, salvando bastante, não é nada que atrapalhe.
Arte
O primeiro ponto positivo é a dublagem (original) em Português do Brasil.
Dito isso, vale lembrar que tanto em português quanto em inglês o trabalho é
primoroso. O contraste das vozes de personagens cínicos, com Eva, com os
humorísticos, como Glottis, é uma prova nítida do profissionalismo. Manny muitas
vezes puxa um sotaque (nas duas versões) espanhol, em referência ao tom “Dia de
Los Muertos” que perpassa todo o jogo. Por curiosidade ainda podemos trocar
livremente entre as outras línguas também dubladas.A beleza de Grim Fandango não está apenas na remasterização, nas texturas e na luz, – que foram cuidadosamente melhoradas para os padrões atuais, mas sem nenhuma mudança de estilo – ela está também no design geral, por exemplo, com personagens facilmente diferenciáveis e expressivos, mesmo se tratando de caveiras brancas e pretas feitas com o mínimo de polígonos e uma face lisa.

A trilha sonora foi totalmente regravada pela Melbourne Symphony, e
mereceria um lançamento em CD isolado. Além dos sons emocionantes agravando as
emoções de cada tela, as músicas mais atmosféricas poderiam ser ouvidas por
horas. Tudo isso intercalado com momentos de música com influência mexicana,
reforçando o estilo Dia de Los Muertos.
Conclusão
Grim Fandango é uma remasterização esperada por muitos fãs do estilo e por
interessados em geral em jogos para PC dos anos 90. Uma vez que os jogos
modernos parecem ter ido em diversas direções, Grim Fandango se mostra uma
janela não apenas para os saudosistas, mas para qualquer um que busque algo
diferente do que se faz hoje, com o bônus de descobrir o que seria considerado
brilhante quase duas décadas atrás, que parece ainda fazer sentido para muitos.
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